Com espaços generosos e décor recheado de obras assinadas por artistas e designers importantes, esse tipo de casa exibe surpresas em todos os cantos e visual renovado a cada nova aquisição. Exemplo do dinamismo dessa visão estética é a casa do arquiteto Samuel Krushin, na Zona Oeste de São Paulo.
Em cima da lareira do living, há uma pintura de Eliseu Visconti, um dos mestres do impressionismo brasileiro. Na cabeceira da cama do casal, um Cícero Dias guarda o sono dos moradores. Para Samuel, não há nada de tão extraordinário nisso.
Ele sempre conviveu com arte e faz questão de ser o curador de si mesmo. Enquanto passeia pelos amplos ambientes da residência, o arquiteto mostra e comenta as telas de Volpi, Vania Mignone e Anita Malfatti e as esculturas de Arthur Lescher e Brecheret, mescladas a peças do melhor artesanato do Brasil. Sem revelar números, ele jamais encarou seu acervo como um negócio. “A arte para mim é como alimento e as obras estão aí para o deleite da família, dos amigos e de quem mais vier.”
O biólogo Décio Altimari e sua mulher, Miriam, sempre que viajam procuram trazer pelo menos uma amostra das obras de arte e das raridades que encontram em museus e galerias. (Gui Morelli/Revista CASA CLAUDIA)
Com um jeito parecido de morar, um renomado advogado paulistano, que por segurança optou por não revelar sua identidade, mantém num dos banheiros de sua enorme casa no Itaim-Bibi, também na capital paulista, nada menos do que uma tela de Antônio Bandeira, pasme, logo acima do vaso sanitário. No living, há um Miró entre modernistas como Pancetti, Gomide, Milton Dacosta e Maria Leontina.
Ele não revela o tamanho de sua coleção. Só diz que levou 40 anos para reunir dezenas de quadros e esculturas inigualáveis. “Só saem daqui emprestados a museus, como o MAM, para exposições pontuais.” A arte é tão importante no dia a dia do advogado que, apesar da agenda lotada, ele arruma tempo para supervisionar a distribuição de suas maravilhas pelos ambientes. A composição das cores é seu único capricho de curador. “Tudo tem de se colocar com equilíbrio.”
Tanto em um endereço quanto no outro, as obras e peças de design se integram ao cotidiano de um jeito natural. A ostentação passa longe. Só se leva em conta a qualidade, seja de uma peça de artesanato popular, seja de telas valiosas. A naturalidade dessa convivência com a arte muda de tom quando a pauta é a relação visceral com suas preciosidades. Nessa hora, vêm à tona o crítico e o amor pelo assunto. Tudo permeado por um intenso brilho no olhar.
Resultado: hoje o biólogo e sua esposa possuem um incrível acervo, que mistura pintores como Chagal com porcelanas raras, estatuetas africanas e muito mais. (Gui Morelli/Revista CASA CLAUDIA)
É assim também com o biólogo e diretor da ouvidoria geral da Faculdade de Medicina da Santa Casa, Décio Altimari, e sua mulher, Miriam. A ligação com o belo e o prazer de viajar fizeram dos 600 metros quadrados do apartamento do casal, renovado pelo arquiteto Marcelo Couto, uma galeria eclética. Ali há uma mistura de Chagal e Miró com máscaras africanas, porcelana chinesa, artesanato mexicano, estatuetas egípcias e muito mais. “Todas as vezes que viajamos, trazemos uma amostra do que nos encanta”, diz Décio.
Já na casa de Tamara Perlmann, uma das diretoras da Parte, uma respeitada feira de arte contemporânea em São Paulo, faltam paredes para expor todas as obras que vive adquirindo. “Meu foco são os novos talentos, gente jovem, como Nino Cais. A questão é que tenho um mix de fotografa, esculturas tridimensionais, pinturas e gravuras e nem sempre há lugar para tudo.”
O que, no final das contas, não é um grande problema para ela, e muito menos para o advogado Carlos Marvin Tevian. A paixão que nutrem por arte e design os faz dar um jeito de acrescentar mais alguma peça ao acervo – sempre com o devido equilíbrio e harmonia.