
Mobral (1971), óleo sobre tela por Maria Auxiliadora da Silva (Jorge Bastos/MASP)
No Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), 2018 será um ano dedicado às histórias afro-atlânticas, ou seja, as narrativas dos fluxos e refluxos – culturais, populacionais, linguísticos e, principalmente, artísticos – entre a África e as Américas através do oceano Atlântico. Para a inauguração desse ciclo que se inicia hoje (9), e incluirá palestras, mostras, cursos e demais atividades, o museu traz as exposições Imagens do Aleijadinho e Maria Auxiliadora: vida cotidiana, pintura e resistência, que dialogam com o tema da escravidão e reforçam o debate sobre suas reverberações nos 130 anos da Lei Áurea.
Imagens do Aleijadinho

Nossa Senhora das Dores (1791), em madeira policromada por Aleijadinho. (Sergio Roberto Guerini/MASP)
Antônio Francisco Lisboa (1738 – 1814), conhecido como Aleijadinho, foi um dos maiores expoentes da arte sacra, do barroco e do rococó no Brasil. Filho bastardo de pai português e mãe escrava, foi ativo em Minas Gerais de meados do século XVIII ao início do século XIX. Seus trabalhos, frequentemente esculpidos em madeira e pedra sabão para igrejas e propriedades privadas, são um importante testemunho dos hábitos religiosos e culturais da sociedade mineira durante o período colonial, incluindo a religiosidade popular e as segregações raciais.

São Simão Stock, madeira dourada, prateada e policromada por Aleijadinho. (Daniel Mansur/MASP)
A exposição Imagens do Aleijadinho reúne cerca de 50 obras, entre mapas, gravuras, fotografias, pinturas e 37 esculturas devocionais cuja autoria foi atribuída ao próprio artista ou à sua oficina por diferentes especialistas. Produzidas em um momento marcado pela rápida urbanização da região de mineração, o artista elabora, entre influências européias, religiosas e africanas, um modelo de arte fundamental para compreender o escâmbio entre culturas e a repercussão dessa mistura na cena artística nacional contemporânea.
Maria Auxiliadora: vida cotidiana, pintura e resistência

Capoeira (1970), óleo e massa de poliéster sobre tela por Maria Auxiliadora da Silva (Jorge Bastos/MASP)
De origem humilde, descendente de escravizados, a mineira Maria Auxiliadora da Silva (1938 – 1973) cresceu em São Paulo, em uma família de artistas integrantes do movimento negro. Autodidata, a pintora se destacou entre os anos 1960 e 1970, e expôs seu trabalho em Embu das Artes e na Praça da República, também em São Paulo. Por meio de uma mistura entre tinta a óleo, mechas do próprio cabelo e uma massa plástica usada para reparos domésticos, Maria Auxiliadora inventou sua própria técnica, longe dos preceitos acadêmicos, para representar volumes e partes do corpo, como cabelos, nádegas e seios. Em suas telas, confere protagonismo ao negro e a si própria como mulher em meio à composições geométricas e cores vibrantes.

Sem Título (1972), por Maria Auxiliadora da Silva (Jorge Bastos/MASP)
Com curadoria de Fernando Oliva, Maria Auxiliadora: vida cotidiana, pintura e resistência está organizada em seis núcleos temáticos: “Autorretratos”, “Casais”, “Interiores”, “Manifestações populares”, “Candomblé, umbanda e orixás” e “Rural”. A exposição resgata 82 obras e pretende renovar o interesse na original produção da artista, ampliando as leituras sobre sua vida e obra para além dos rótulos, que comumente a associaram à arte chamada “popular”, “primitiva”, “naif” ou “afro-brasileira”.
Imagens do Aleijadinho e Maria Auxiliadora: vida cotidiana, pintura e resistência
Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) – Av. Paulista, 1578 – Bela Vista, São Paulo
Abertura: 9 de março, às 20h
Data: 10 de março a 10 de junho de 2018
Horários: terça a domingo: das 10h às 18h (bilheteria aberta até as 17h30); quinta-feira: das 10h às 20h (bilheteria até 19h30)
Ingressos: R$35,00 (entrada); R$17,00 (meia-entrada)
O MASP tem entrada gratuita às terças-feiras, durante o dia todo.