Retrato emocionante da decoração na favela de Paraisópolis
Um registro precioso da fotógrafa Renata Castello Branco sobre a comunidade Paraisópolis revela um jeito brasileiro de morar
Por Texto Cristina Dantas | Fotos Renata Castello Branco
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21 Dec 2016, 11h46 - Publicado em 5 Oct 2012, 21h26
Durante dois anos, Renata Castello Branco repetiu um roteiro: foi semanalmente ao bairro de Grotinho, na comunidade de Paraisópolis, Zona Sul de São Paulo, fotografar o interior das casas, que, para quem só as conhece por fora, não passam de um agrupamento aleatório, que abriga quase 100 mil pessoas. Conhecida pelos retratos, Renata pensou em captar apenas os ambientes. Mudou de ideia. “Sou uma retratista”, diz. “Ficou quase impossível separar a casa de quem vive nela. Fotografei o lar, que é a alma das pessoas.” Os espaços caóticos que costumamos ver não a interessavam. “Meu foco era o que havia de estruturado.” As moradias clicadas geraram exposição e livro e provaram a tese da autora: “O morador é a alma da casa”.
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CASA DA CRISTIANE. O alinhamento dos quadros e tapetes remete às casas dos centros urbanos, com sua ordem e sobriedade. Uma capa cobre o filtro de água, como se fazia décadas atrás, quando tudo era feito para durar.
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CASA DE JOSÉ. Vários elementos encontrados nas construções da comunidade estão presentes aqui. Os retratos pintados, as cantoneiras usadas quase como adorno, o apuro as cores e a cortina de plástico – herança nordestina.
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CASA DA FAMÍLIA CARDOSO. O vaso sobre a mesa é simples, e as flores, artificiais. O orgulho fica estampado no rosto. "Acho que dá para sentir isso nas fotos", diz Renata.
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CASA DA FAMÍLIA CARDOSO. A religião está presente e evidenciada nessas moradias. Aqui, imagens religiosas enfeitam as paredes, algumas em molduras douradas.
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CASA DO CICERO. Um estudo particular de tons especialmente fortes levou vermelhos e azuis até o teto, como se estivesse saído das obras do arquiteto mexicano Luis Barragán. No alto de uma mureta, o copo plástico faz as vezes de vaso para flores do mesmo material.
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CASA DA MARIA MADALENA. Atrás da cortina de contas e de um olhar mais tímido do que curioso, notam-se os adornos recorrentes nessas moradias: os quadros, as cores e, em uma casa sem moscas, a frequente divisória.
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CASA DO JOSÉ JUNIOR. “Não sinta inveja de mim. Não sou rico. Apenas trabalho”. Na sala, não há janelas, apenas cortinas.
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CASA DO JOSÉ JUNIOR. O verde predomina na cozinha com peças compradas em lojas de 1,99 real. Uma placa ao lado do forno de micro-ondas sintetiza a estética anárquica de sua morada.
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Design das imperfeições. Quando o Brasil descobriu o Brasil, surgiram peças que jamais seriam imaginadas em outro país. Onde mais nasceria a poltrona Favela, dos irmãos Campana, ou a estante Arbol, de Juliana Llussá.
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INVENTÁRIOS. As 100 fotografias feitas por Renata Castello Branco renderam uma bem organizada exposição em agosto no Sesc Pompeia. De lá, seguiram para o lugar onde nasceram: o Grotinho. À venda em edição limitada, as fotos também compõem o livro Paraisópolis, uma Cidade dentro da outra.
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A fotógrafa Renata Castello Branco captura o jeito sensível dos moradores de Paraisópolis de decorar a casa.
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As 100 moradias clicadas geraram exposição e livro e provaram a tese da autora: "O morador é a alma da casa".
Imagens de santos pontuam as paredes
O interior das casas revelou cores intensas e retratos retocados a mão, transformads em pinturas. Neles, cantoneiras que servem de proteção durante o transporte da moldura permanecem, como uma forma a mais de adorno e uma prova a mais de esmero em lares onde o animal de estimação é o passarinho. Aos poucos, Renata foi entendendo o motivo de algumas peças frequentes nas moradias, como as cortinas de contas plásticas. “Os nordestinos são maioria na comunidade. Essas cortinas evitam, no Nordeste, que as moscas circulem de um espaço para outro”, conta. Na construção de um lar, a memória importa mais do que a utilidade.