Iluminação poética transforma o apartamento de 30 anos
Uma distribuição inteligente e o uso poético da luz foram as chaves para o escritório de Toninho Noronha redesenhar os ambientes e a atmosfera deste apartamento na capital paulista.
Por Reportagem Ana Weiss I Fotos Luis Gomes
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19 jan 2017, 10h59 - Publicado em 20 nov 2012, 20h34
*Matéria publicada em Casa Claudia Luxo #31 – Novembro e Dezembro de 2012
Reunir irmãos de geração, como Tarsila do Amaral e Ismael Nery, e primos tão distantes, como Alfredo Volpi, Abraham Palatnik, Tunga e Franz Krajcberg, requer um senso agudo de equilíbrio desafiante para qualquer curador com uma grande sala em branco por ser ocupada. Juntar peças tão fortes, díspares e vibrantes respeitando a individualidade de cada uma sem tirar o senso de conforto e aconchego numa residência não é esperar pouco de um projeto de reforma. O apartamento de 30 anos tinha espaço para a coleção de arte moderna e contemporânea do casal paulistano, mas o acabamento neoclássico, excessivo em detalhes desnecessários, não condizia com a elegância da coleção e as expectativas do casal. “Eles tinham acabado de assistir ao filme The Ghost Writer e estavam interessados naquela atmosfera retilínea de tons neutros e sóbrios das tomadas internas da película de Roman Polanski”, lembra o arquiteto Toninho Noronha. “Por isso o piso de carvalho e o cinza das paredes”, emenda. Para criar um ambiente fluido, um quarto foi desfeito e incorporado à sala, e algumas divisórias foram derrubadas. “Retiramos as paredes que separavam a sala de jantar do living.
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Escultura de mármore de Victor Brecheret
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Objeto cinético de Abraham Palatinik foi ponto de partida para a organização desta morada de colecionadores e amantes da arte brasileira.
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A ordenação de planos deu conta da circulação da sala de estar e da individualização de peças, como o relevo de Sérgio de Camargo, destaque no centro do ambiente. O corredor, atrás, tem projeto luminotécnico de Maneco Quinderé. À direita, na sala de TV, os sofás da Cassina (Montenapoleone) emolduram as obras-primas de Antonio Bandeira.
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Sofás da italiana Minotti (Atrium) parecem flutuar em função de sua estrutura quase imperceptível, ao lado da escultura dobrável de Lygia Clark, da série Bichos. As cadeiras Dom José foram garimpadas em antiquário.
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Objeto do argentino León Ferrari.
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Portas camufladas no lambri cinza (execução da Marcenaria Naves & Fabiano) destacam a tela de Lasar Segall, que acompanha a passagem das áreas íntimas para o living.
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Luminária da Dominici dá feições especiais ao objeto de Joaquim Tenreiro (sob a mesa lateral).
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Escultura dobrável de Lygia Clark e cadeiras garimpadas em antiquário
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Sala de jantar e living, integrados, têm a circulação sinalizada pela distribuição dos móveis e pela iluminação. O pendente de ingo Maurer desce do rasgo no gesso.
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Luminária de chão da Foscarini atrai o olhar para a mesa desenhada pelos arquitetos e para a vista quase aérea da cidade. As cadeiras são da Vitra.
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A arquitetura reta e em tom rebaixado que o casal pediu aos arquitetos cumpre perfeitamente o papel de “desaparecer” atrás da tela Composição, pintura de 1930 de Tarsila do Amaral.
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Pintura de Tarsila do Amaral na sala de jantar
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A grande abertura promove o contraste entre o skyline de uma São Paulo contemporânea e saturada e a peça de Brecheret, criada no entusiasmo da crença no futuro de uma metrópole moderna, internacional e bela.
O quarto ocupava o local onde hoje está o home theater, também conectado com as áreas sociais”, comenta o arquiteto Renato Andrade, que participou do projeto. Esse grande salão, de piso de carvalho- americano e teto de gesso branco, se tornou o cenário para a raríssima coleção de arte brasileira distribuída nas paredes, mesas de centro e lateral e no chão. “Trabalhamos com desejos nem sempre muito próximos. O casal, muito discreto, queria um espaço para receber. Mas, sendo eles pais de duas crianças, entendemos que seria importante propor uma demarcação entre as áreas íntimas e o grande espaço de atenção, onde ficariam as obras”, conta Toninho. “Por isso, a iluminação de passagem assinada pelo Maneco Quinderé tem um papel importante de sinalização”, explica. Os desenhos de luz, combinados com a sinalização discreta da arquitetura, contribuem com forte mudança de tom ao entrar no núcleo social desta morada. Como se, ao cruzar o corredor, encontrássemos um templo particular. Um templo adornado com imagens sagradas da arte nacional.
*Matéria publicada em Casa Claudia Luxo #31 – Novembro e Dezembro de 2012