Em 2011, os Jaeger dividiam duas casas erguidas no mesmo terreno, no bairro da Pompeia, onde vivem há quase três décadas. Foi quando surgiu uma boa oportunidade de investimento: o sobradinho defronte estava à venda. “Resolvemos comprá-lo para dar ao Felipe um endereço definitivo, já que ele morava num loft em nosso quintal”, conta a mãe, a arquiteta Yaskara Jaeger. A reforma, encomendada ao arquiteto Beto Faria, acabou crescendo. “Como o imóvel estava em mau estado de conservação, e o Felipe queria uma planta contemporânea, optamos por demolir e erguer outro”, Beto justifica. A nova construção, porém, foi projetada de modo a se integrar à paisagem do bairro. “Para aproveitar o declive nos fundos do terreno, exploramos o subsolo e mantivemos a fachada baixa, mais simpática, dialogando com o entorno.”
Exemplar da arquitetura típica paulistana, ainda muito comum nas ruas da Pompeia, a casa de Felipe é geminada, ou seja, colada aos vizinhos laterais – implantação que, quase sempre, resulta em cômodos escuros e abafados. Ambos os problemas foram resolvidos com a construção de um jardim interno, cercado de vidro, bem no centro da planta do andar inferior. “Como não há telhado ali, a luz e até a água da chuva atingem sem obstáculos o subsolo”, explica o arquiteto. A cozinha, encaixada num corredor ao lado dessa estrutura, é a principal beneficiada pela iluminação natural. “Se não fosse pelo verde, o ambiente poderia ter ficado claustrofóbico”, avalia Beto. E viver enclausurado não faz a cabeça do morador, amante confesso de espaços livres e integrados.
A família acompanha os agitos da Pompeia
Há 27 anos, o designer Fernando Jaeger e sua mulher, Yaskara, mudaram-se para o bairro. O filho mais velho, Felipe, contava 2 anos, enquanto os outros, Marina e Theo, já nasceram por lá. Foi na r. Coronel Melo de Oliveira que eles escolheram instalar sua primeira loja de móveis, inaugurada em 1995 – hoje, duas das seis unidades permanecem nas cercanias. “O intuito era trabalhar perto dos filhos e ter qualidade de vida”, lembra Yaskara. Nessas quase três décadas, a Pompeia mudou um bocado: para o bem e para o mal, de acordo com o clã. A verticalização da vizinhança, eles admitem, tem sido motivo de preocupação, já que, nos últimos cinco anos, boa parcela dos sobrados foi demolida para dar lugar a espigões cercados de complexos de lazer. “Nossa primeira morada e a escola das crianças devem vir abaixo em breve. Uma pena! Quando havia maior número de casas, as ruas eram mais tranquilas”, opina a arquiteta. Por outro lado, pondera Felipe, já não é preciso deixar as redondezas para fazer compras ou comer fora. “Vejo uma espécie de ‘vilamadalenização’ do bairro”, afirma o rapaz, referindo-se à boêmia Vila Madalena, também na Zona Oeste da capital. “A toda hora surgem bares, restaurantes e lojinhas.” Ainda segundo ele, a parte alta da Pompeia, próxima à av. Alfonso Bovero, está cada vez mais descolada e rende ótimos passeios. “Só não percorro tudo a pé ou de bicicleta por causa das ladeiras íngremes.”