Casas e Apartamentos

4 casas e apês dominados por coleções afetivas

Estes colecionadores começaram cedo a montar um acervo de respeito. Nos espaços onde vivem, eles expõem a paixão pela arte, cada um à sua maneira

A moda encontra a arte

Camila diante do desenho de Tunga da série Ethers, que retrata a relação energética entre corpos e cristais – pedras de que ela gosta e espalha pela casa.

Camila diante do desenho de Tunga da série Ethers, que retrata a relação energética entre corpos e cristais – pedras de que ela gosta e espalha pela casa. (Renato Navarro/Revista CASA CLAUDIA)

Há anos trabalhando ao lado da estilista Paula Raia, a carioca Camila Schnarndorf leva suas referências de moda para a casa. Não faltam tecidos naturais, que vestem os móveis do apê, em São Paulo, na mesma sintonia de suas roupas.

A obra de Edgard de Souza foi presente do marido quando o filho, Gael, nasceu. Colares da Casa Violeta e poltrona Mole, de Sergio Rodrigues.

A obra de Edgard de Souza foi presente do marido quando o filho, Gael, nasceu. Colares da Casa Violeta e poltrona Mole, de Sergio Rodrigues. (Renato Navarro/Revista CASA CLAUDIA)

A coleção de arte completa o décor com algo que vai além da estética: histórias dela e do marido, Carlos de Barros Jorge. “Minha primeira obra, um quadro de Ivan Grilo, foi uma surpresa que ele me deu a caminho do aeroporto antes de partir para uma viagem ao redor do mundo”, conta a moradora – ela havia se apaixonado pelo trabalho numa exposição.

No living, foto de Daniel Aratangy, mesinhas e abajur de Jader Almeida.

No living, foto de Daniel Aratangy, mesinhas e abajur de Jader Almeida. (Renato Navarro/Revista CASA CLAUDIA)

Já a tela na entrada esperava Camila na volta da maternidade. “Cheguei com o bebê no colo e o quadro estava lá, pendurado. São obras que guardam momentos bons.”

Pratos da linha Cosmic Dinner, da Diesel Living para a Seletti.

Pratos da linha Cosmic Dinner, da Diesel Living para a Seletti. (Renato Navarro/Revista CASA CLAUDIA)

Bagagem de telas e livros

Ricardo à frente de obras dos amigos Bruno Dunley e Renata De Bonis (à dir.). O morador se encantou pela tela azul quando ela ainda estava sendo produzida, no ateliê do artista.

Ricardo à frente de obras dos amigos Bruno Dunley e Renata De Bonis (à dir.). O morador se encantou pela tela azul quando ela ainda estava sendo produzida, no ateliê do artista. (Victor Affaro/Revista CASA CLAUDIA)

Nove anos atrás, o paulistano Ricardo Kugelmas fazia as malas rumo a Nova York após aceitar um
convite do artista italiano Francesco Clemente para administrar seu estúdio. Durante esse tempo, tratou de ampliar sua coleção de arte. “Acabei unindo meu ofício a uma paixão. Como andava entre museus e galerias, conheci muita gente de quem ganhei ou comprei obras”, conta.

Tela de Paulo Whitaker, escultura de Claudio Cretti e fotografa de Janaina Tschäpe (à dir.).

Tela de Paulo Whitaker, escultura de Claudio Cretti e fotografa de Janaina Tschäpe (à dir.). (Victor Affaro/Revista CASA CLAUDIA)

De volta a São Paulo há dois anos, Ricardo instalou a mudança (quatro caixas de quadros e 15 de livros) na antiga casa dos avós – um sobrado modernista projetado por Gian Carlo Gasperini em 1957 no Morumbi.

A biblioteca hoje está ocupada por livros de arte, que podem ser consultados no local.

A biblioteca hoje está ocupada por livros de arte, que podem ser consultados no local. (Victor Affaro/Revista CASA CLAUDIA)

No local, fundou o Auroras, um espaço independente de arte, no qual, a cada três meses, promove mostras abertas ao público (que também pode agendar uma visita para conhecer a biblioteca e seu acervo de títulos especializados).

O hall de entrada, com obras de Tiago Tebet (no alto da escada) e Arthur Chaves.

O hall de entrada, com obras de Tiago Tebet (no alto da escada) e Arthur Chaves. (Victor Affaro/Revista CASA CLAUDIA)

O cenário inclui obras de gente do calibre de Tunga, Lenora de Barros, Leda Catunda e Alex Katz. “Acho incrível acordar e, no caminho entre o meu quarto e a cozinha, praticamente atravessar uma exposição.”

Olhar estético

Gabriella ao lado da obra de aço inox de Ana Maria Tavares. Aparador de Leandro Garcia, mesa do estúdio O Formigueiro e cadeiras Cantú, de Sergio Rodrigues.

Gabriella ao lado da obra de aço inox de Ana Maria Tavares. Aparador de Leandro Garcia, mesa do estúdio O Formigueiro e cadeiras Cantú, de Sergio Rodrigues. (Reportagem Visual: Simone Raitzik/Fotos: Adré Nazareth/Revista CASA CLAUDIA)

Graças à vontade de trazer beleza para a casa nova, a carioca Gabriella Magalhães descobriu uma paixão. “Já gostava de arte e visitava exposições, mas não conhecia por dentro o mundo das galerias, das feiras e dos artistas”, conta.

Fotografa de Paulo Nazareth sobre banco de Gustavo Bittencourt.

Fotografa de Paulo Nazareth sobre banco de Gustavo Bittencourt. (Reportagem Visual: Simone Raitzik/Fotos: Adré Nazareth/Revista CASA CLAUDIA)

Aos poucos, o envolvimento dela e do marido, Fernando, fez com que os dos desvendassem o funcionamento do mercado e montassem uma coleção importante de arte contemporânea. Além disso, o casal se tornou patrono de locais como o Instituto Inhotim, a Pinacoteca de São Paulo e o Museu de Arte do Rio.

No canto da sala de jantar, obra de Jac Leirner, uma das artistas favoritas da moradora.

No canto da sala de jantar, obra de Jac Leirner, uma das artistas favoritas da moradora. (Reportagem Visual: Simone Raitzik/Fotos: Adré Nazareth/Revista CASA CLAUDIA)

As obras são tão prioritárias na casa que Gabriella mudou a disposição dos móveis diversas vezes em função delas. “Agora estou com um foco mais prático. Deixei aqui as que combinam melhor com nosso estilo de vida. Outras foram levadas para o escritório do Fernando e, algumas, doadas para o acervo de museus.”

Trabalho de Luiz Zerbini da série criada com antigos slides coloridos.

Trabalho de Luiz Zerbini da série criada com antigos slides coloridos. (Reportagem Visual: Simone Raitzik/Fotos: Adré Nazareth/Revista CASA CLAUDIA)

Interesse compartilhado

Allann e Ian (à dir.) na sala de seu apê térreo. Ao fundo, obras de Hudinilson, Diego Lopez, Vicente do Rego Monteiro, Auguste Rodin e Jacques Jesion.

Allann e Ian (à dir.) na sala de seu apê térreo. Ao fundo, obras de Hudinilson, Diego Lopez, Vicente do Rego Monteiro, Auguste Rodin e Jacques Jesion. (Victor Affaro/Revista CASA CLAUDIA)

Na contramão dos relacionamentos online, o arquiteto Ian Duarte e o artista visual Allann Seabra se conheceram à moda antiga: ao se ver todos os dias na hora do almoço. Na época, Ian trabalhava num escritório de arquitetura e Allann já tocava a paulistana Galeria Verve, do outro lado da rua.

Tela criada por Allann, poltrona de Rodrigo Almeida e escultura de Florian Raiss.

Tela criada por Allann, poltrona de Rodrigo Almeida e escultura de Florian Raiss. (Victor Affaro/Revista CASA CLAUDIA)

Primeiro eles viraram amigos, depois sócios na galeria, depois namorados, para então dividir a mesma casa – e as obras de arte. “Podemos contar nossa história por meio delas. Algumas vieram com ele, outras comigo e muitas compramos juntos”, conta Ian.

Piano vintage e fotografa de Maureen Bisilliat, da série Menino-Anjo.

Piano vintage e fotografa de Maureen Bisilliat, da série Menino-Anjo. (Victor Affaro/Revista CASA CLAUDIA)

Nesse acervo, há trabalhos que retornam para as mostras na galeria ou são vendidos. Mas os que falam mais alto ao coração, como os do amigo Florian Raiss, permanecem. “Colocamos na parede o que mais gostamos”, explica Allann.

Acima da cama, foto de Valdeci Ribeiro e, sobre o gaveteiro, cabeças de bronze de Florian Raiss.

Acima da cama, foto de Valdeci Ribeiro e, sobre o gaveteiro, cabeças de bronze de Florian Raiss. (Victor Affaro/Revista CASA CLAUDIA)