É um movimento amplo, que começou com intenções difusas, mas agora ganha um desenho nítido. O estúdio de tendências da holandesa Li Edelkoort enxerga que o descontentamento com a política, as crises econômicas, a exploração feroz dos recursos naturais, o hiperconsumismo
e a violência do mundo atual levam as pessoas a querer reescrever suas relações – com a natureza, a vizinhança, a cidade.
Ocupar os espaços públicos das mais diversas formas é a maneira que encontraram para redesenhar essas conexões. Em alguns casos, por meio de um trabalho de zeladoria. Pode ser um encontro de tribos com interesses específicos – festa infantil na praça, ioga no parque.
Pode ser também um plantio de árvores, como o que o advogado paulistano Danilo Bifone começou a realizar, sem maiores pretensões, há mais de 20 anos na Zona Leste de São Paulo. Foi só quando a árvore que emprestava sombra à calçada de sua casa morreu que ele percebeu que nunca havia se dado conta da importância dela. Tratou de aprender a plantar e repôs a muda. Aproveitou para olhar em volta e, vendo que a rua e o bairro precisavam de mais árvores, decidiu plantar ele mesmo.
A ideia atraiu amigos e interessados, que passaram a se encontrar mensalmente e resultado: já contam 25 mil mudas plantadas e mais quatro grupos descendentes em outros bairros da capital. “Perguntam se o Muda Mooca tem CNPJ, se é uma ONG. Nada disso. Somos apenas uma turma que planta árvores”, simplifica. Além do benefício da zeladoria, Danilo acredita que os encontros fortalecemos laços sociais, dão poder à comunidade e mostram que o espaço público não é terra de ninguém.
Estelle Brown, uma das organizadoras do Incredible Edible, grupo que cultiva hortas comunitárias em Todmorden, na Inglaterra, concorda. “Por meio do trabalho com as hortas, as pessoas passaram a perceber que a cidade realmente pertence a elas”, conta. A pequena “Tod” se tornou um canteiro. “Quando começamos, em 2008, éramos 12. Agora há cerca de 40 pessoas trabalhando nelas diariamente, sem contar os turistas, que vêm só para conhecer o projeto.”
E não faltam iniciativas como esta pelo mundo, inclusive no Brasil. A Horta das Corujas, no bairro paulistano Vila Beatriz, foi implantada em uma praça e fica aberta ao público 24 horas por dia.
Ou seja: mais gente na rua. Para os urbanistas, sinal de ambiente saudável e seguro. “A circulação de pessoas valoriza a área, promove a troca de experiências e transmite sensação de segurança”, explica José Magnani, professor titular do departamento de antropologia da USP.