Casas e Apartamentos

CASA HOTEL

A vida sem excessos, funcional e confortável comanda o estilo nestes ambientes

LIBERDADE

Vida funcional, confortável, com grande mobilidade e fácil de ser transportada

DESAPEGO

Viver de maneira simples, eliminar de vez os excessos e só cultivar o essencial

CONVENIÊNCIA

Com tudo à mão, sem precisar se deslocar muito para compras, trabalho e lazer

EXPERIÊNCIA

Jogar-se intensamente à vida sem se preocupar em acumular, em ter

O banquinho da E15, a bike e a vida em microcasas combinam com a simplicidade da tendência e seus espaços confortáveis, cada vez menores e com infraestrutura reduzida. Os vasos da Selvvva completam a cena.

O banquinho da E15, a bike e a vida em microcasas combinam com a simplicidade da tendência e seus espaços confortáveis, cada vez menores e com infraestrutura reduzida. Os vasos da Selvvva completam a cena. (Divulgação/Santiago Nunez/Julia Rettmann/Revista CASA CLAUDIA)

Menos é mais

Batizada de Tiny Movement nos EUA, a tendência ao desapego vira desprendimento e vincula a qualidade de vida a um estilo simples de encarar o dia a dia, além de estimular o consumo responsável, a ideia de compartilhamento e o senso de comunidade

Viver só com o essencial, ter uma vida mais simples. A ideia, que há pouco tempo soava pueril, hoje ganha um batalhão de entusiastas. Mesmo porque acumular não se alinha com as necessidades do mundo contemporâneo. As pessoas perceberam que preservar recursos é vital e, com esse olhar, surgiu uma nova ordem.

“Os recentes modelos de economia colaborativa que incluem uma visão original de gestão e de relações de trabalho não hierárquicas acabaram por resultar no consumo consciente. Ter ficou menos importante do que reutilizar e compartilhar”, explica o sociólogo italiano Francesco Morace, presidente do Future Concept Lab, especializado em tendências.

Ou seja, sob a ótica do desprendimento, a ideia primordial do desapego é clara: a preferência por acumular experiências e não bens materiais, por partilhar e não simplesmente possuir. Outro ponto que aparece com esse comportamento é o desejo por um contato maior com a natureza, com o que é puro, original, essencial.

E foi justamente essa busca que levou o casal Luciana Pitombo e Felipe Stracci, também arquitetos, a viver de uma forma mais simples e sustentável, mesmo em meio ao caos de São Paulo. Eles reformaram um apartamento antigo e preservaram esquadrias e revestimentos originais. Na decoração, optaram por incluir muitas plantas e peças que possuam algum significado, e nada em excesso. “Não temos carro, usamos bicicleta para nos locomover. Nossa casa expressa muito o que nós somos”, diz Luciana.

Diretora comercial de uma marca internacional de luxo, a paulistana Patricia Gaia mudou radicalmente
a perspectiva sobre seus objetos quando resolveu fazer uma viagem em 2015, durante um período sabático.
“Tive que me desfazer de tudo o que era supérfluo para poder alugar meu apartamento – e resumi tudo o que tinha à mala de 20 kg”, conta. Ela distribuiu roupas, objetos e utensílios entre suas duas filhas. “O desapego é um aprendizado, uma quebra de paradigma. Acho que as pessoas precisam rever conceitos para entender melhor o que realmente necessitam para viver bem”, acredita.

A ideia da “vida que cabe dentro de uma mala” também se aplica ao estilo de viver do fotógrafo Victor Affaro, que já morou em Londres e Nova York e hoje tem endereço fixo em São Paulo. “Se eu quiser viajar ou morar em outro lugar a qualquer momento, eu vou facilmente. Vendo tudo e fico apenas com meu equipamento de som, os discos, o laptop e a câmera”, garante.

Ainda em sintonia com essa nova concepção, há o compartilhamento de casas. Uma pesquisa feita pela londrina SpareRoom, empresa que oferece aluguéis de quartos em residências, mostrou o aumento de 71% na procura por esse tipo de serviço desde 2013. “Dividir um quarto e banheiro com um estranho é um mercado em crescimento”, diz Mariana Santiloni, expert do portal de tendências WGSN.

Outro salto significativo no interesse desse tipo de serviço ocorreu também no Brasil. “Quando iniciamos as operações, em 2012, havia 3,5 mil anúncios de hospedagem no país. Hoje, a plataforma conta com cerca de 100 mil em todos os estados brasileiros”, informa Leonardo Tristão, diretor-geral do Airbnb nacional. Seja qual for a opção, morar de uma forma simples ou dividir o mesmo teto com alguém, o desapego une as pessoas em torno de um pensamento comum, mas verdadeiro: menos é mais, sempre.

O apartamento de Luciana Pitombo e Felipe Stracci

Os itens da paulistana Patricia Gaia

O lifestyle do fotógrafo Victor Affaro

Vida Social

Apês minúsculos e uma profusão de áreas comuns bacanas, para encontrar os vizinhos, definem o formato dos novos co-livings

O que você prefere: um quarto espaçoso ou companhia para jantar? Se você mora só e escolheu a segunda opção, faz parte do público-alvo dos co-livings, um tipo de empreendimento que começa a fazer sucesso nas grandes cidades. Em Londres, as vagas nos 550 apartamentos do The Collective Old Oak, considerado o maior condomínio do gênero no mundo, se esgotaram em apenas seis meses.

O sonho de seu fundador, Reza Merchant, dono da start-up do mercado imobiliário The Collective, era oferecer mais que um teto, a preços competitivos, numa cidade cara. O empresário quis dar aos moradores – na maioria jovens profissionais hipsters – a sensação de comunidade. Há ainda a questão do desprendimento: um apê com quarto e banheiro basta. O resto (jardins, spa, biblioteca, sala de estar, de jogos, academia) é compartilhado.

A ideia é se sentir parte de uma turma – com privacidade. Morar no The Collective custa em torno de 4 mil reais mensais (com contas de água, luz, internet, faxina e até roupa de cama inclusos), um preço muito convidativo para Londres.

As janelinhas na fachada do The Collective Old Oak entregam o espírito do lugar: uma série de ambientes de convívio, que incluem cozinha coletiva, biblioteca, spa, restaurante e suítes compactas, usadas só para dormir, distribuídas pelos andares.

Livres e Soltas

Transportáveis, as microcasas são uma aposta no estilo pé na estrada

O movimento Tiny Homes surgiu nos EUA nos anos 2000 como um protesto ao consumismo exacerbado dos norte-americanos e também, mais tarde, como uma alternativa à crise imobiliária de 2009. Hoje as microcasas fazem sucesso especialmente pela liberdade que oferecem: têm baixa manutenção e, no caso dos modelos transportáveis, podem acompanhar as mudanças de vida dos moradores.

Na kombi de Felipe e Marina, há minigeladeira, fogareiro e pia, além de um banco dobrável, que serve de sofá e cama para o casal. Placas solares dão energia para duas tomadas 110 V, que carregam celulares, notebooks e lâmpadas.

Na kombi de Felipe e Marina, há minigeladeira, fogareiro e pia, além de um banco dobrável, que serve de sofá e cama para o casal. Placas solares dão energia para duas tomadas 110 V, que carregam celulares, notebooks e lâmpadas. (Divulgação/Revista CASA CLAUDIA)

A onda já chegou ao Brasil: a bióloga Mariana Capriotti e o microempresário Felipe Manfrini tinham empregos convencionais em São Paulo até 2015, quando resolveram apostar na produção de conteúdo em plataformas digitais e nas oportunidades da economia colaborativa. O casal hoje mora e trabalha numa kombi reformada pelo designer Marcelo Rosenbaum.

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(Divulgação/Revista CASA CLAUDIA)

“Não temos endereço fixo”, garantem. Eles colocaram o pé na estrada com o objetivo de divulgar as técnicas da permacultura – planejamento de sistemas produtivos em equilíbrio com a natureza – pelos quatro cantos do país. “A kombi nos dá a liberdade de vivenciar coisas incríveis mundo afora.”

LAR TRANSPORTÁVEL