Casas e Apartamentos

CASA VIRTUAL

As casas portáteis e outras modalidades de vida nômade estão mudando o jeito de pensar sobre qual é nosso lugar no mundo

Sem endereço

Uma tendência de comportamento vai ganhando força à medida que a tecnologia se desenvolve.
Combinando o velho e o novo – o nomadismo e a conectividade –, o morar sem endereço fixo vai ser a realidade de muitos millennials, a geração nascida a partir dos anos 1980, que já declarou não pretender investir em imóveis, e também de nascidos em gerações anteriores, para quem viajar por aí era sonho difícil de materializar.

Segundo o arquiteto e pesquisador Guto Requena, cada vez menos o conceito de se sentir em casa vai dizer respeito a um lugar. “Parte dessa reflexão vem da ideia de desmaterialização, promovida pela tecnologia, seguida pela destituição de territórios conhecidos, como o dos espaços físicos, que devem dar lugar à conquista de territórios simbólicos, como os dos sentimentos”, explica.

“Os clientes pedem projetos já pensando em como vender mais tarde, pois mudar está nos planos. Por isso carregar a própria casa atrai mais e mais gente”

Duda Porto, arquiteto

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(Escape RV/Steve Niedorf/Revista CASA CLAUDIA)

O desapego dos bens materiais, e também de espaço, é consequência natural desse estilo de vida, que pede mobilidade. Não só a nossa, mas a da residência. As minicasas, construções pré-fabricadas e motorhomes vêm na esteira dessa tendência. Há opções para todos os estilos, como você confere nas páginas desta reportagem.

No Brasil, Duda Porto entrou na sintonia dos projetos portáteis em 2013, com o Lite, de 120 m² e estrutura metálica feito sob medida para ser desmontado. A Cabana (apresentada na Casa Cor Rio 2016) é empreitada mais recente: tem 40 m² e deve custar 190 mil reais quando passar a ser vendida.

O arquiteto carioca acredita que o conceito de casa para a vida inteira não existe mais. “Os clientes pedem projetos já pensando em como vender mais tarde, pois mudar está nos planos. Por isso carregar a própria casa atrai mais e mais gente”, conta.

Discos, livros, guias de viagem, fotos e filmes não precisam mais se apoiar em prateleiras – todos são muito bem acomodados em nuvens de armazenamento. O home office já é uma realidade e as redes sociais, além de nos deixar a par da agenda da mídia diariamente, nos conectam com família, amigos e colegas de trabalho a qualquer momento. Há leilão de passagens aéreas. Alugar uma residência, em qualquer ponto do planeta, é simples: faz-se pelo celular. Deslocar-se ficou mais leve, barato e possível.

O casal formado pela carioca Roberta Câmara, 45 anos, e o sueco Jörgen Dehlbom, 48, está há mais de dois anos experimentando esse novo jeito nômade de morar, parte de um período sabático sistematicamente adiado. Até que um quiproquó profissional desengavetou o plano. “Decidimos alugar os apartamentos de cada um, vender o resto e sair pelo mundo”, conta Roberta, via Skype, de Sarajevo, na Bósnia – eles já estabeleceram endereço em mais de 30 países e pretendem seguir “até quando der”. Surpresa: com dois cachorros a tiracolo.

Segundo ela, o aplicativo do Airbnb no celular é essencial, já que raramente se hospedam em hotel. Além dos bichos, eles carregam duas malas apenas, uma com as roupas de inverno, outra com as de verão. “E ainda acho muito”, brinca.

Para Requena, o futuro é mais acolhedor do que parece. Na sua previsão, vamos habitar casas diferentes ao longo da vida, customizando os ambientes com o que carregamos de informação, das fotos na parede branca à trilha sonora. “Quem sabe se teremos tudo isso num biochip que é reconhecido assim que abrirmos a porta?”, sugere. Atenção: as definições de lar estão sendo rapidamente atualizadas.

Tamanho mini para viagem

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(Escape RV/Steve Niedorf/Revista CASA CLAUDIA)

A Escape One XL, de 36 m², é construída sobre seu próprio reboque pela empresa norte-americana Escape Homes. A madeira do revestimento externo passa por um processo de carbonização superficial, a técnica japonesa shou sugiban, que protege o material contra intempéries e cupim. Cada uma custa a partir de 69,8 mil dólares e possui dois dormitórios, banheiro, cozinha e área de trabalho. Há opções de controle de temperatura que permitem suportar calor ou frio extremo.

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(Escape RV/Steve Niedorf/Revista CASA CLAUDIA)

Versão pop-up

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(Jim Stephenson/Revista CASA CLAUDIA)

Em busca de criar uma solução que explorasse formas alternativas de vida urbana e pautados
pela reciclagem, os arquitetos do escritório londrino Pup desenvolveram o módulo H-VAC,
revestido de telhas de embalagem Tetra Pak. O projeto pode ser colocado sobre os prédios e ficar disfarçado como um equipamento de ar-condicionado, o que dispensa a autorização da prefeitura de Londres. Assim, as casinhas viram uma extensão do imóvel e podem mudar de lugar sempre que necessário.

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(Jim Stephenson/Revista CASA CLAUDIA)

Da praia ao campo

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(Divulgação/Revista CASA CLAUDIA)

Produzida pela marca japonesa Muji, esta linha de pequenas cabanas pode ser instalada nas montanhas, perto do mar ou até num jardim urbano para servir de anexo de lazer. O desenho
minimalista tira sua inspiração da arquitetura japonesa e promete acomodar até quatro pessoas confortavelmente em pouco menos de 10 m². Já a porta de vidro garante iluminação natural. Custa a partir de 26 mil dólares.

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(Divulgação/Revista CASA CLAUDIA)

Para viver nos extremos

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(Divulgação/Revista CASA CLAUDIA)

O arquiteto Ivan Ovchinnikov, do escritório russo Bio Architects, desenvolveu o DD16, um protótipo de casa em módulos capaz de enfrentar condições climáticas extremas. A ideia é instalá-lo em lugares remotos para receber viajantes em busca de aventuras e trasportá-lo para outros sempre que for preciso. Feita de madeira laminada, a construção é leve, resistente e totalmente isolada graças ao acabamento de alumínio e à vedação de espuma de poliuretano. Inclui chuveiro, cama de casal, mesa de jantar e fogão.