Casas e Apartamentos

Minimalismo: 4 apês com somente o necessário no décor

Desapego, praticidade e sustentabilidade: estes personagens escolheram viver em ambientes com poucos elementos, mas sem abrir mão de charme e conforto

Por um futuro limpo

No quarto do casal, painel de madeira com obra de Rubem Valentim e cadeira Formiga vintage. Ao fundo, escultura da avó do morador.

No quarto do casal, painel de madeira com obra de Rubem Valentim e cadeira Formiga vintage. Ao fundo, escultura da avó do morador. (Marco Antonio e Gui Morelli/Revista CASA CLAUDIA)

Quando a pequena Anita nasceu, três anos atrás, os designers Christian Sampaio e Fabiola Pentagna enxergaram um motivo a mais para levar a fundo algo que já faziam: reduzir ao máximo a produção de lixo da família. Isso tanto no dia a dia profissional na Papelaria (nome do estúdio criado pelo casal, onde criam peças de papel e couro para grifes como Gloria Coelho e a internacional Hermès) quanto em casa.

Em primeiro plano, sofá de Jorge Zalszupin e, ao fundo, obras de Armarinhos Teixeira e escultura de Santo Expedito garimpada na feira do Bixiga.

Em primeiro plano, sofá de Jorge Zalszupin e, ao fundo, obras de Armarinhos Teixeira e escultura de Santo Expedito garimpada na feira do Bixiga. (Marco Antonio e Gui Morelli/Revista CASA CLAUDIA)

“Se temos de comprar móveis, por exemplo, damos preferência a peças duráveis e com as quais possamos conviver por muito tempo”, conta Christian, que desde cedo ensina a filha a viver com menos e a reciclar tudo. Com olho para o design atemporal, eles mantêm o mesmo mobiliário há anos.

Fabiola, Christian, Anita e a whippet Vareta clicados ao lado da obra de Ella Durst, com banquinhos de Claudia Moreira Salles.

Fabiola, Christian, Anita e a whippet Vareta clicados ao lado da obra de Ella Durst, com banquinhos de Claudia Moreira Salles. (Marco Antonio e Gui Morelli/Revista CASA CLAUDIA)

Vira e mexe, os itens ganham uma repaginada, como um tecido novo, e seguem impecáveis. As cores neutras, os materiais nobres e as paredes, quase sem obras penduradas, criam vazios propositais e ajudam a acentuar a vocação clean do dúplex onde moram, no bairro Morumbi, em São Paulo. “Às vezes, recebemos visitas que perguntam como fazemos para manter tudo organizado com criança em casa. Com pouco ao redor, temos menos bagunça”, garante Fabiola.

Tudo se transforma

Arnaldo sentado nas cadeiras de Jorge Zalszupin. Sem saber que eram do designer, o fotógrafo as salvou antes que um conhecido as jogasse no lixo.

Arnaldo sentado nas cadeiras de Jorge Zalszupin. Sem saber que eram do designer, o fotógrafo as salvou antes que um conhecido as jogasse no lixo. (Marco Antonio e Gui Morelli/Revista CASA CLAUDIA)

Depois de deixar o Rio de Janeiro, onde nasceu, e rodar pelos Estados Unidos, o fotógrafo Arnaldo Borenzstajn resolveu fincar pé em São Paulo em 2012. Dono de poucas coisas vindas das antigas casas, ele passou os três primeiros anos na capital paulista pulando de um apartamento a outro, com suas coisas guardadas em caixas.

O sofá herdado da irmã do morador veio do Rio de Janeiro e ganhou lugar privilegiado ao lado da janela, onde há uma jardineira com capim-do-texas.

O sofá herdado da irmã do morador veio do Rio de Janeiro e ganhou lugar privilegiado ao lado da janela, onde há uma jardineira com capim-do-texas. (Marco Antonio e Gui Morelli/Revista CASA CLAUDIA)

“Nunca acumulei nada e, como fui itinerante, precisava me organizar de forma simples para levar minha mudança de lá pra cá”, diz ele, que há dois anos vive num prédio no bairro Higienópolis. O apê tem projeto do SubEstúdio, que traduziu em concreto, paredes brancas e piso claro o jeito desapegado do morador.

Sua cama minimalista é, na verdade, um sofá-cama com estrutura de futon.

Sua cama minimalista é, na verdade, um sofá-cama com estrutura de futon. (Marco Antonio e Gui Morelli/Revista CASA CLAUDIA)

“Reuni aqui itens que herdei de família ou encontrei por aí. Não compro peças novas e vou improvisando com o que tenho.” Além disso, tudo é prático e multifuncional: a mesa de jantar dobra e fica guardada no armário, o computador faz as vezes de TV, caixas de som vintage viram mesa de centro e uma antiga torre de computador pode servir de banco. Mais simples, impossível.

Sem apego nenhum

Natalia entre as poltronas da Artesian e diante do quadro do artista Sergio Sister. As cores da obra influenciaram a paleta do espaço.

Natalia entre as poltronas da Artesian e diante do quadro do artista Sergio Sister. As cores da obra influenciaram a paleta do espaço. (Marco Antonio e Gui Morelli/Revista CASA CLAUDIA)

Quando voltou a morar em São Paulo, depois de uma temporada de cinco anos em Londres, a argentina Natalia Kupfer fez questão de importar parte do estilo de vida que adotou na capital inglesa. Escolher um lugar que permitisse fazer tudo a pé era um dos elementos desse lifestyle.

O sofá da Carbono e o abajur da Skandium, comprado em Londres, seguem as linhas retas da marcenaria.

O sofá da Carbono e o abajur da Skandium, comprado em Londres, seguem as linhas retas da marcenaria. (Marco Antonio e Gui Morelli/Revista CASA CLAUDIA)

A coach executiva encontrou o que procurava em Pinheiros, bairro no qual pedestres e ciclistas têm vez. Seu apartamento, com projeto de reforma assinado pelo escritório AR Arquitetos, também combina com o cotidiano descomplicado seguido por ela e pelo marido. O lugar é acolhedor na medida, com fluidez entre os espaços e equilíbrio nas cores.

Uma das coisas que mais agradam a moradora é a linearidade do apartamento, o que garante fluidez de uma ponta a outra.

Uma das coisas que mais agradam a moradora é a linearidade do apartamento, o que garante fluidez de uma ponta a outra. (Marco Antonio e Gui Morelli/Revista CASA CLAUDIA)

Quanto ao décor, foi planejado com alguns poucos móveis que a acompanham desde o casamento, há dez anos, e itens comprados do outro lado do Atlântico. “O desapego faz parte da minha vida e do meu trabalho, pois ajudo as pessoas a viver com o melhor que podem ter e deixar para trás coisas sem sentido.”

Ambiente despoluído

Ricardo ao lado de um banco de madeira e de uma tela do venezuelano Jaime Gili.

Ricardo ao lado de um banco de madeira e de uma tela do venezuelano Jaime Gili. (Marco Antonio e Gui Morelli/Revista CASA CLAUDIA)

No apê do artista visual Ricardo Alcaide, no bairro paulistano da República, as influências do modernismo estão por toda parte. No vaso de fibrocimento, nos móveis de jacarandá e nas cores acinzentadas, que guiam o décor. E isso não é por acaso.

Tons azuis tomam conta da sala. O tapete foi desenhado pelo morador, e a poltrona é de Percival Lafer.

Tons azuis tomam conta da sala. O tapete foi desenhado pelo morador, e a poltrona é de Percival Lafer. (Marco Antonio e Gui Morelli/Revista CASA CLAUDIA)

Além da ligação emocional e profissional com o movimento (ele cresceu numa casa modernista em Caracas, Venezuela, e fotografa a arquitetura das décadas de 1950, 60 e 70, para depois fazer interferências nas imagens), essa estética cai como uma luva para o artista, que vê a necessidade de morar num lugar onde haja limpeza visual.

O bar de jacarandá lembra um móvel que havia na casa dos pais do morador. Sobre<br />ele, há um abajur garimpado.

O bar de jacarandá lembra um móvel que havia na casa dos pais do morador. Sobre
ele, há um abajur garimpado. (Marco Antonio e Gui Morelli/Revista CASA CLAUDIA)

“Para me sentir bem no dia a dia, preciso viver em ambientes com bastante ar, respiros em branco, móveis totalmente funcionais e com desenhos mais simples, sem muitos detalhes”, conta. Adepto do plant based, um tipo de veganismo que não inclui alimentos industrializados, ele acredita que o minimalismo tem a ver com uma maneira de conduzir a vida de uma forma muito mais leve.